Após quase duas décadas atuando em
grandes corporações, das quais 95% dedicadas a áreas responsáveis pelo
fortalecimento da marca, da transparência na gestão e principalmente da ética
no relacionamento com os principais stakeholders da organização,
constato que pouco entendo da dinâmica real destes temas em sua complexa rede
de processos e tomada de decisão.
De fato, vivenciamos nos últimos anos
diversos exemplos, especialmente em nosso País, de como uma organização ao agir
em desacordo com as leis e as normas pode não somente exterminar sua própria
existência, mas também levar consigo ladeira a baixo todo um setor de atividade
produtiva e a economia de uma nação. Neste contexto evidencia-se a necessidade
premente da existência de controles e de uma real gestão de potenciais riscos à
ação íntegra dos representantes das empresas, no que se refere ao cumprimento
das leis e normas internas que resguardem os valores e imagem da organização.
No entanto, nos últimos meses, tenho
colocado a prova meus conhecimentos relacionados ao “estar” dentro das leis e
normas em sua prática, e como a tomada de decisão entre o que é ou não correto,
em quase a maioria das vezes fica sob a responsabilidade de “UM ser humano”.
Como descrito anteriormente, atuei em
grandes empresas, diretamente ligada a ações que tinham como foco a
sustentabilidade da organização e, portanto, a governança corporativa e a
gestão de riscos eram a base estrutural dos meus desafios enquanto
profissional. Neste meio, agora percebo, que não haviam dúvidas em relação à
conduta a ser assumida. Fornecedores, colegas colaboradores e parceiros
compartilhavam dos mesmos conhecimentos e crenças não deixando margem para
qualquer comportamento que não garantisse a integridade do profissional, do ser
humano e da imagem da organização.
Motivada por novos e desafiadores
objetivos profissionais, há alguns meses assumi novos compromissos, totalmente
diferentes do que antes estava habituada. Ampliei minha rede de relacionamento
profissional, conhecendo a cada dia novas pessoas, parceiros e fornecedores que
comungam um único foco: o fechamento de novos acordos comerciais
e o ganho financeiro, seja por meio do próprio negócio ou por bônus atrelado à
performance. Neste novo mundo, não poucas vezes fui colocada à prova, em
situações comuns aos grupos envolvidos, quando recebia a oferta de presentes e
favorecimento, que com certeza não teria acesso se estivesse em outra posição
profissional.
O mais impressionante nesta dinâmica do
setor, além dos favores e trocas serem comuns aos olhos de seus integrantes,
foram momentos nos quais cheguei a duvidar da melhor conduta a ser tomada,
sentindo-me como “um estranho no ninho”. Estranhamente, apeguei-me aos manuais
e políticas da organização que represento, buscando as respostas à diferença de
crenças que perpassavam por minhas reflexões. E, foi então, quando de fato
percebi a aplicabilidade de todos os conceitos que estudei e que me apoiaram no
desenvolvimento de políticas, diretrizes e códigos de conduta.
O contexto, o ambiente e o momento em
que se vive influenciam a tomada de decisão de um profissional e são os valores
arraigados e diretrizes fortemente estabelecidas e compartilhadas, somados a
colaboradores aderentes à cultura organizacional que se tornam essenciais para
garantir a integridade comportamental e dirimir possíveis dilemas éticos
inerentes ao sentimento do ser humano em obter vantagens em detrimento do
próximo ou mesmo da própria corporação. Um programa de compliance deve
principalmente considerar o fator do humano, da pessoa e os ambientes, que
enquanto representante da organização irá percorrer, desenvolvendo assim
momentos de capacitação periódicos e de acompanhamento e monitoramento, com foco
na realidade do dia-a-dia.
Durante estes anos de atuação no mundo
corporativo, percebo o quanto os programas e políticas que tem como foco a
integridade permanecem distantes de grande parte dos colaboradores e
principalmente da média e alta liderança. Muito já foi realizado, porém ainda
há um longo caminho para que o discurso passe a ser de fato a prática.
Cristiane
S. Hirota Pillibossian. Graduada
em Psicologia pela Universidade Mackenzie, Pós-graduada
em Gestão de Projetos e Processos Organizacionais pelo IPEN - USP. Especialista
em gestão para a sustentabilidade em ambientes corporativos
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