A priori, qualquer empresa, pequena, média ou grande – com ou sem fins lucrativos – pode alcançar o desenvolvimento sustentável por meio da inovação sustentável. Trata-se de oferecer um novo recurso organizacional, como produtos, serviços, ideias, experiências, modelo de negócios, processos, sistemas, práticas e estruturas organizacionais etc. O foco está em pequenos impactos ambientais, como economia de energia, prevenção de poluição, reciclagem de resíduos, para atender às novas necessidades dos clientes.
No entanto, a proposta de desenvolvimento sustentável da Comissão Brundtland é considerada um oximoro, o que significa um paradoxo em si, com muitas complexidades e contradições. É uma proposta densa, que engloba as preocupações, os desafios e os esforços comuns de todas as nações, em várias dimensões da realidade humana, como econômica, social, ambiental, política, de saúde, geográfica e cultural. Portanto, leva a interpretações e críticas conflitantes em relação ao seu amplo escopo. Dessa discussão, emergiram dois campos opostos: um que acredita nesta força-ideia e defende a possibilidade de uma sociedade e organizações sustentáveis; e outra, que é cética e ainda duvida se sua aplicabilidade na agenda global.
Dado que o desenvolvimento sustentável e a inovação em sustentabilidade são dois lados da mesma moeda, porque o primeiro para ser colocado em prática depende do segundo, a inovação sustentável também lida com camadas de complexidade e incerteza. Significa lidar com muitas tensões, contradições, dialéticas e paradoxos desse novo paradigma.
Nesse sentido, pequenos e médios empresários também enfrentam camadas de complexidade e paradoxos ao inovar de forma sustentável. Para enfrentar tal situação, podem, por exemplo, utilizar intermediários legais na implementação de iniciativas de inovação sustentáveis, como a Certificação Fair Trade ou Certificação de Comércio Justo.
Foi o que aconteceu com uma cooperativa de agricultores familiares de café no estado do Espírito Santo. Contudo, esta iniciativa enfrentou restrições por parte de alguns cooperados. Assim, para lidar com os paradoxos (produção sustentável ema atendimento às normas e procedimentos da certificação vs resultados rápidos), a cooperativa fez uso de microfundamentos organizacionais (indivíduos, processos, estruturas e suas interações). Em particular, os indivíduos (heterogeneidade dos membros, valores, crenças; habilidades existentes e novas desenvolvidas pelos agricultores; gerações de cafeicultores e nível de educação); processos (colaboração com intermediários legais, procedimentos operacionais e tecnologias de Fairtrade); estruturas (o estatuto da Cooperativa muda com o acréscimo de regras de punição e maior rigor para a entrada de novos cooperados e suas interações).
Trata-se de uma prática diferente e bem-sucedida para incrementar a inovação nas PMEs, melhorando os processos de produção e marketing com resultados positivos na qualidade de vida dos agricultores, suas famílias, comunidade e meio ambiente. Em outras palavras, novas formas de inovação, nas dimensões ambiental, econômica e social.
Márcia D'Angelo
Doutora e Mestra em Administração de Empresas
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