A necessidade corporativa
de inovar, gerar engajamento nos colaboradores e sustentabilidade aos negócios,
leva-nos a refletir sobre a posição ocupada pela empresa frente ao mercado,
haja vista a instabilidade econômica do nosso país, a volatilidade e a
competitividade acirrada junto à concorrência. Neste momento, a inovação se faz
presente como um importante fator para a sobrevivência das corporações, e
preparar a cultura organizacional para o intraempreendedorismo torna-se um
desafio.
Em
primeiro lugar, cabe elucidar o conceito de práticas empreendedoras e
intraempreendedoras em virtude de algumas similaridades.
O
empreendedorismo pode ser definido como o processo pelo qual se faz algo novo -
algo criativo, diferente, inovador - com a finalidade de gerar riqueza para os indivíduos e
agregar valor para a sociedade.
O
empreendedor é um estrategista, com perfil inovador, criador de novos métodos
para penetrar e criar novos mercados. Ele define metas, é criativo, lida com o
desconhecido e com riscos, imaginando o futuro e transformando possibilidades
em probabilidades. Boa parte de seu sucesso está em sua capacidade de lidar com
as adversidades, fazendo uso da resiliência e do foco no resultado com
dedicação total durante todo o processo. Embora muitas pessoas adquiram estas
características sem frequentar cursos, tem-se a convicção de que elas podem ser
desenvolvidas e lapidadas.
Com
relação ao perfil intraempreendedor, Pinchot e Pellman definem a atuação de
forma clara: “Intraempreendedores
transformam novas ideias em novas realidades rentáveis. Sem intraempreendedores
dotados de empowerment, as empresas não inovam. Na verdade, muitas empresas desperdiçam seu talento
intra-empreendedor”.
Faz-se notável a motivação dos colaboradores gerada pela
identificação com a empresa que possui uma cultura intraempreeenderora, além do
sentimento de pertencimento e realização. Desta forma, qualquer pessoa pode desempenhar um papel empreendedor
dentro de uma organização, lembrando que os intraempreendedores possuem menos autonomia
do que os empreendedores porque não são os proprietários, devendo seguir as
regras e diretrizes da empresa. Todavia, intrinsecamente sentem-se “donos” do
negócio, no intuito de fazer acontecer, promovendo melhorias e mudanças.
Segundo
o artigo do professor Dr. Tales Andreassi, na concepção de empreendedorismo
corporativo, “a inovação e a atitude empreendedora podem ocorrer em qualquer
nível da empresa”, desmistificando nossa percepção errônea que relaciona esse
tipo de atuação somente aos cargos de alta gestão ou ao fundador. Sendo assim,
cada colaborador, com suas próprias experiências e recursos, pode inovar e
tornar-se empreendedor.
Cabe
ressaltar que ambos os perfis – empreendedor e intraempreendedor - desenvolvem
uma orientação que aponta a direção que deve ser seguida. Intraempreendedores e
empreendedores se complementam com focos diferenciados, mas com objetivo comum,
ambos prezam pelo crescimento e desenvolvimento, não há espaço para manutenção
do “status quo” e acomodação.
Comparo
este processo a um automóvel: o empreendedor dá à direção e a velocidade, haja
vista seu conhecimento de mercado, e o intraempreendedor complementa o
progresso, cuidando de todas as nuances envolvidas e melhorias, ou seja, o
balanceamento, que poderia ser o propósito e valores da equipe, bem como a
força do motor, representada pela clareza e entusiasmo para o mesmo objetivo, e,
por último, o freio, entendido como pontos internos de atenção que podem afetar
o resultado final. Por exemplo: feudos corporativos e ausência de conexão com o
processo. Percebe-se assim, o intraempreendedorismo como um sistema para
acelerar as inovações dentro das empresas, através do melhor uso dos seus
profissionais.
Nesse
ponto, cabe a reflexão: será que todas as empresas estão prontas para implementar
ou promover a manutenção de uma cultura intraempreendedora? Ou há um limite
entre o querer “desejo” e o efetivamente aceitar a inovação.
Será
que a maioria dos colaboradores com características intraempreendedoras deixam
as corporações porque consideram insuficientes seus salários e benefícios ou
porque se sentem frustrados em suas tentativas de inovar?
A
concepção do intraempreendedorismo envolve a disposição da empresa em
proporcionar aos colaboradores liberdade para criar (e também errar),
oferecendo recursos para financiar a inovação, bem como assumir os custos dos
equívocos que inevitavelmente acontecem no percurso. E essa não é uma tarefa
simples, pois envolve a cultura organizacional e as zonas de sombra, haja
vista, muitas empresas que ainda possuem o modelo “erro = demissão”, constituindo
um forte inibidor da motivação para inovar.
Em
diversas organizações, nossa realidade ainda aponta lideranças que possuem
receio em incentivar o intraempreendedorismo entre os membros de suas equipes,
a fim de manterem uma relação de poder mais tradicional. Entretanto, não
incentivá-los representa a não aceitação da capacidade criativa do colaborador
e, em questão de tempo, este colaborador provavelmente implementará sua ideia
em um concorrente ou em seu próprio negócio.
Concluo
que as práticas criativas e a evolução do modelo intraempreendedor estão
altamente vinculadas à cultura organizacional, conectada primeiramente ao
fundador, em seguida à alta gestão e à média gerência, as quais devem abrir
espaço aos demais. Enfim, todos os profissionais possuem um papel importante
neste processo piramidal de escuta ativa como composição de um diálogo
eficiente na cultura de inovação das organizações. Cabe também refletirmos em
que momento nos encontramos neste cenário, bem como a empresa em que atuamos.
Mestranda
em Gestão para a Competitividade pela FGV/EAESP. Pós-MBA em Inteligência
Empresarial - FGV. MBA em Gestão de Pessoas com ênfase em Estratégia – FGV.
Especialista em Psicopatologia – USP. Strategic Business Leadership pela Ohio
University. Graduada em Psicologia. Coach Executivo/Carreira- ICI. Consultora
organizacional - Business Partner na área de Gestão de Pessoas.
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