terça-feira, 19 de junho de 2018

Intraempreendedorismo e a cultura de inovação nas organizações




A necessidade corporativa de inovar, gerar engajamento nos colaboradores e sustentabilidade aos negócios, leva-nos a refletir sobre a posição ocupada pela empresa frente ao mercado, haja vista a instabilidade econômica do nosso país, a volatilidade e a competitividade acirrada junto à concorrência. Neste momento, a inovação se faz presente como um importante fator para a sobrevivência das corporações, e preparar a cultura organizacional para o intraempreendedorismo torna-se um desafio.

Em primeiro lugar, cabe elucidar o conceito de práticas empreendedoras e intraempreendedoras em virtude de algumas similaridades.

O empreendedorismo pode ser definido como o processo pelo qual se faz algo novo - algo criativo, diferente, inovador - com a finalidade de gerar riqueza para os indivíduos e agregar valor para a sociedade.

O empreendedor é um estrategista, com perfil inovador, criador de novos métodos para penetrar e criar novos mercados. Ele define metas, é criativo, lida com o desconhecido e com riscos, imaginando o futuro e transformando possibilidades em probabilidades. Boa parte de seu sucesso está em sua capacidade de lidar com as adversidades, fazendo uso da resiliência e do foco no resultado com dedicação total durante todo o processo. Embora muitas pessoas adquiram estas características sem frequentar cursos, tem-se a convicção de que elas podem ser desenvolvidas e lapidadas.

Com relação ao perfil intraempreendedor, Pinchot e Pellman definem a atuação de forma clara: “Intraempreendedores transformam novas ideias em novas realidades rentáveis. Sem intraempreendedores dotados de empowerment, as empresas não inovam. Na verdade, muitas empresas desperdiçam seu talento intra-empreendedor”.

Faz-se notável a motivação dos colaboradores gerada pela identificação com a empresa que possui uma cultura intraempreeenderora, além do sentimento de pertencimento e realização. Desta forma, qualquer pessoa pode desempenhar um papel empreendedor dentro de uma organização, lembrando que os intraempreendedores possuem menos autonomia do que os empreendedores porque não são os proprietários, devendo seguir as regras e diretrizes da empresa. Todavia, intrinsecamente sentem-se “donos” do negócio, no intuito de fazer acontecer, promovendo melhorias e mudanças.

Segundo o artigo do professor Dr. Tales Andreassi, na concepção de empreendedorismo corporativo, “a inovação e a atitude empreendedora podem ocorrer em qualquer nível da empresa”, desmistificando nossa percepção errônea que relaciona esse tipo de atuação somente aos cargos de alta gestão ou ao fundador. Sendo assim, cada colaborador, com suas próprias experiências e recursos, pode inovar e tornar-se empreendedor.

Cabe ressaltar que ambos os perfis – empreendedor e intraempreendedor - desenvolvem uma orientação que aponta a direção que deve ser seguida. Intraempreendedores e empreendedores se complementam com focos diferenciados, mas com objetivo comum, ambos prezam pelo crescimento e desenvolvimento, não há espaço para manutenção do “status quo” e acomodação. 

Comparo este processo a um automóvel: o empreendedor dá à direção e a velocidade, haja vista seu conhecimento de mercado, e o intraempreendedor complementa o progresso, cuidando de todas as nuances envolvidas e melhorias, ou seja, o balanceamento, que poderia ser o propósito e valores da equipe, bem como a força do motor, representada pela clareza e entusiasmo para o mesmo objetivo, e, por último, o freio, entendido como pontos internos de atenção que podem afetar o resultado final. Por exemplo: feudos corporativos e ausência de conexão com o processo. Percebe-se assim, o intraempreendedorismo como um sistema para acelerar as inovações dentro das empresas, através do melhor uso dos seus profissionais.

Nesse ponto, cabe a reflexão: será que todas as empresas estão prontas para implementar ou promover a manutenção de uma cultura intraempreendedora? Ou há um limite entre o querer “desejo” e o efetivamente aceitar a inovação.

Será que a maioria dos colaboradores com características intraempreendedoras deixam as corporações porque consideram insuficientes seus salários e benefícios ou porque se sentem frustrados em suas tentativas de inovar?

A concepção do intraempreendedorismo envolve a disposição da empresa em proporcionar aos colaboradores liberdade para criar (e também errar), oferecendo recursos para financiar a inovação, bem como assumir os custos dos equívocos que inevitavelmente acontecem no percurso. E essa não é uma tarefa simples, pois envolve a cultura organizacional e as zonas de sombra, haja vista, muitas empresas que ainda possuem o modelo “erro = demissão”, constituindo um forte inibidor da motivação para inovar.

Em diversas organizações, nossa realidade ainda aponta lideranças que possuem receio em incentivar o intraempreendedorismo entre os membros de suas equipes, a fim de manterem uma relação de poder mais tradicional. Entretanto, não incentivá-los representa a não aceitação da capacidade criativa do colaborador e, em questão de tempo, este colaborador provavelmente implementará sua ideia em um concorrente ou em seu próprio negócio.

Concluo que as práticas criativas e a evolução do modelo intraempreendedor estão altamente vinculadas à cultura organizacional, conectada primeiramente ao fundador, em seguida à alta gestão e à média gerência, as quais devem abrir espaço aos demais. Enfim, todos os profissionais possuem um papel importante neste processo piramidal de escuta ativa como composição de um diálogo eficiente na cultura de inovação das organizações. Cabe também refletirmos em que momento nos encontramos neste cenário, bem como a empresa em que atuamos.



Mestranda em Gestão para a Competitividade pela FGV/EAESP. Pós-MBA em Inteligência Empresarial - FGV. MBA em Gestão de Pessoas com ênfase em Estratégia – FGV. Especialista em Psicopatologia – USP. Strategic Business Leadership pela Ohio University. Graduada em Psicologia. Coach Executivo/Carreira- ICI. Consultora organizacional - Business Partner na área de Gestão de Pessoas.



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