Você sabe qual a empresa
mais antiga do mundo, ainda ativa e operante?
Estudos do Bank of Korea
apontam que a empresa de maior longevidade, localiza-se no Japão, atuando no setor
de hotelaria , e que foi fundada no ano 705. É isso mesmo, que você leu: fundada
no ano 705... da era cristã, portanto com mais de mil e trezentos anos de existência.
Esta empresa não é um caso isolado, pois o estudo igualmente aponta algumas centenas de empresas com a mesma longevidade, perfeitamente adaptadas aos cenários de turbulências que vivemos todas elas competitivas em sus segmentos, totalmente integradas à Web 4.0 e correspondentes interações com as mídias sociais de relacionamento com seus stakeholders, apesar de manterem uma cultura de mais de um milênio e meio, por assim dizer. Imaginem o histórico da curva de experiência dessas empresas.
O questionamento lógico que se faz neste momento é: 'quais seriam os fatores críticos de sucesso que este grupo de empresas desenvolveram ao longo de sua existência? O que estas empresas têm em comum e que as diferenciam de tantas outras que nascem, crescem e morrem, sendo que algumas nem chegam a cresce, e desaparecem rapidamente?
Sejam quais forem os
fatores críticos de sucesso, podemos afirmar que a competividade do fator humano
sempre esteve presente no histórico dessas empresas, na forma de: visão de
futuro, liderança de equipes, comprometimento com os propósitos corporativos, e
seguramente mediante uma forte capacidade de resiliência e coragem para
enfrentar turbulências e desafios, o que resulta sem dúvida, na capacitação necessária
para inovar e se reinventar constantemente.
Estas empresas têm muito
a nos dizer sobre caminhos estratégicos vencedores, pois estes ingredientes de uma
cultura organizacional milenar, é que fizeram com que elas chegassem até aqui, com
força suficiente para continuar a crescer e a viver por mais mil anos, pelo menos.
O exemplo dessas empresas
milenares sempre me vem á mente quando desenvolvo trabalhos de consultoria em Planejamento
Estratégico, e guardada as devidas proporções, estou nesta atividade há mais de
vinte anos.
As primeiras
experiências em Planejamento Estratégico foram vividas ainda como executivo em
uma multinacional, e poucos anos depois passei para o outro lado da mesa como consultor,
no desenvolvimento e execução de inúmeros projetos semelhantes.
Daria para escrever um livro sobre o assunto,
não exatamente sobre como desenvolver um Planejamento Estratégico, pois há uma
série expressiva de publicações a respeito, mas para registrar as aspirações,
propostas e visões, erros e acertos das empresas em relação ao futuro projetado
por centenas de dirigentes e executivos, integrantes desses projetos.
Ao ler esta introdução você poderia supor, que
após todo este tempo fazendo o mesmo exercício, eu estaria caindo na tentação
da acomodação pela própria tendência da rotina, mas posso assegurar que a
prática e vivência nesta atividade representam uma lição altamente importante
de como não se acomodar, principalmente tendo como referencial o caso mencionado
na introdução deste artigo
Se empresas milenares buscam a reinvenção e inovação constante, o que podemos esperar do planejamento estratégico das demais empresas?. A palavra de ordem é: “inove ou morra”. Portanto, se há uma atividade em que tédio e monotonia não existem , é no desenvolvimento de um planejamento estratégico.
O planejamento estratégico na essência, é o exercício de projetar o futuro de uma
empresa, o futuro do investimento dos acionistas, enfim: é traçar o destino de
todos aqueles que estão envolvidos e comprometidos com o negócio em análise.
Torna-se fascinante participar como facilitador em um trabalho de Planejamento Estratégico, e testemunhar as reações dos integrantes deste que é o evento de maior envolvimento coletivo em uma empresa, marcado muitas vezes por paixões, emoções, choque de opiniões e não raro diversas discordâncias, que se não bem monitoradas podem levar a situações complicadas.
È um momento em que afloram diversos
sentimentos demonstrando que por mais cartesiano que seja o formato de um planejamento
estratégico, prevalecerá sempre o lado emocional,
a necessidade do contraditório em busca da inovação e da renovação do negócio.
O formato de planejamento estratégico que
conheci há vinte e poucos anos, guarda pouca relação ao que pratico hoje junto aos meus clientes. O cenário de
competição é outro. As empresas mudaram
o modo de enxergar o próprio negócio, as pessoas são vistas de outra maneira,
seja no papel de colaborador, ou como cliente da empresa.
O fato é que a tecnologia aproximou as pessoas
tanto na relação empresa – mercado, como na relação “one-to-one”.
O mundo hoje é muito mais relacional do que
transacional, o que obriga a comunicarmos e interagirmos prevalecendo “o aqui e
agora”, em termos de tomada de decisão, mas visando “o todo sempre” ou o “quem
sabe, amanhã talvez”.
Este cenário até confirma a hipótese de que os
ingredientes constantes dos fatores críticos de sucesso das empresas milenares
são mais do que imprescindíveis no cenário de turbulência em que vivemos.
Estamos em um mundo multicolorido, predominado
pela interação em tempo real e pela linguagem visual, onde a relacionamento realiza-se
muito mais por meio de imagens do que pela palavra expressa em um documento, em um e-mail ou outro referencial de uma
realidade “em branco e preto”, cartesiana e determinista, que moldava e ditava o conceito do planejamento
estratégico praticado até então.
Não é por mera casualidade que as mulheres
passaram a ter maior destaque dentro das empresas e nas posições de direção.
Elas conseguem naturalmente pensar e agir com muito mais habilidade em um mundo
marcado por esta nova realidade multifacetada de analisar, avaliar e tomar
decisões muitas vezes baseadas exclusivamente na observação, no subjetivo ou na
intuição já que não há bases para tomada de decisões inspiradas em certezas absolutas.
Do
Planejamento Estratégico ao Pensamento Estratégico
Estamos falando da migração do Planejamento
Estratégico ao Pensamento Estratégico, pois as certezas absolutas de um
ambiente simples formado por situações claras, precisas e prováveis, deram
lugar às incertezas típicas de um ambiente complexo em que não há mais previsibilidade
entre ação e reação, graças às novas variáveis como: a globalização, a velocidade das mudanças, a
quebra de paradigmas advindo das inovações, em que o absurdo passa a ser algo que nunca foi
feito, até o momento em que aconteça.
Em um cenário totalmente
imprevisível é necessário considerar “o que vemos e o que não conseguimos
enxergar”. Em ambientes complexos é necessário perceber o contexto de causa e
efeito, ao mesmo tempo o contexto do individual e do coletivo, da unidade e sua
interação com o todo, como um caleidoscópio de multifacetas e de diversos
arranjos, todos eles imprevisíveis.
No passado os cenários
eram “mais ou menos estáveis” e as empresas eram vistas como sistemas
auto-reguláveis, igual a um motor, que funciona de maneira uniforme e constante
, mediante ajustes e correções
periódicas. Estes ajustes ocorriam com o
uso das chamadas ferramentas de mudança, como: os “treinamentos” episódicos ,
workshops de sensibilização , e desta
forma resolvia-se o problema de rota e direção.
Se as empresas fossem
sistemas auto-reguláveis as ferramentas de mudança não proliferariam tanto e
não sairiam tão facilmente de moda. Tal acontece porque elas atuam na
superfície. Tratam os sintomas, não a doença.
No contexto atual as
empresas são efetivamente componentes de um processo complexo e sistêmico
interagindo com mercados que se comportam de maneira randômica, nunca de forma
linear ou previsível.
É fundamental não
confundir complexidade com complicação. Complicação significa prolixidade,
desorganização, falta de entendimento, enquanto Complexidade quer dizer
diversidade. É conviver com o imprevisível, com mudanças constantes e com conflitos.
É ter de lidar com o contraditório, com o paradoxo e a aleatoriedade
Tudo isso mobilizando
potenciais de criação e transformação ,
o que nos leva a concluir que é inútil querer adotar soluções simples para
sistemas complexos, e que é pouco prudente adotar soluções descontínuas, as
supostamente “ferramentas radicais de mudança”, diante de processos contínuos e
imprevisíveis. Os modismos passam, mas a realidade do mercado continua.
Portanto em um cenário
de complexidade, o planejamento estratégico “per si” não levará a empresa a um
destino feliz. È importante o internalização do pensamento estratégico, pois
enquanto o planejamento é um processo de análise, a estratégia é um processo de
criatividade com base em soluções inovadoras em um ambiente errático e sem
padrão definido.
Pensar
estrategicamente é enxergar a realidade por todos os ângulos possíveis,
buscando soluções cada vez mais de tom inovador e que coloquem a empresa em uma
posição de competitividade sustentável.
Em minhas palestras
sobre o tema sempre comento que Competitividade: “é saber fazer algo que só
você saiba fazer, e que represente valor a um grupo expressivo de clientes”.
Por outro lado a estratégia necessária à geração da Competitividade deverá ser
original, distintiva e dificilmente copiável pela concorrência, portanto
concebida a partir de muita originalidade e inovação .
Como fomos educados a
pensar com base na lógica, percebo que muitos executivos tem ainda a falsa
impressão de que quanto maior for o número de controles e fontes de consulta
utilizadas, melhor será o trabalho do planejamento e melhores serão as estratégias,
daí o fracasso do planejamento, pois tudo é definido baseado em dados
estatísticos, relatórios financeiros e “previsões confiáveis”.
Este “engessamento”
não dá espaço à criatividade, à intuição e não há abertura ao debate.
Procure analisar as
empresas vencedoras que você conhece e perceberá que todas apresentam estratégias
originais, distintivas e que seguramente foram geradas a partir dos mesmos fundamentos
das empresas milenares mencionadas no início deste artigo.
Quando os relógios
japoneses invadiram o mercado dominado pelos relojoeiros suíços, de nada
adiantou aumentar a precisão dos relógios suíços. Com a criação do Skype as empresas
de telefonia migraram para o negócio da TV a cabo, daí veio a NETFLIX e jogou
por terra a estratégia das operadoras de telefonia, por exemplo.
Pensar
estrategicamente é enxergar o invisível, o imponderável, o imprevisível.
Para
tanto é necessário a formação de equipes de alto desempenho, constituídas por
profissionais com conhecimento de causa, forte poder de observação e de curiosidade
constante, adequadamente capacitados e comprometidos com o exercício do pensar
diferente, e com o questionamento para a formulação de soluções inovadoras.
O
Pensamento Estratégico não ocorre apenas por vontade, desejo ou necessidade.
Pensar estrategicamente demanda muita prática, disciplina e método.
Enquanto o
Planejamento Estratégico é formulado e revisado periodicamente, o Pensamento
Estratégico deve ser praticado e exercitado todos os dias e por todos na
organização, tanto na definição da estratégia corporativa, como e
principalmente na execução da estratégia, ou seja: na reformulação de processos,
na resolução de problemas e tomada de decisões, na forma de relacionamento com
o mercado, por exemplo.
Assim agindo, a empresa
sempre terá um Planejamento Estratégico afinado com os altos e baixos de um
mercado cada vez mais competitivo.
Conclusivamente
podemos resumir nossas observações sobre como desenvolver o Planejamento
Estratégico através do Pensamento Estratégico em 10 princípios básicos:
1- Defina claramente a Visão,
Missão, Objetivos, Crenças e Valores.
Poucas
empresas dão valor a estas definições, utilizando-as meramente como “efeitos
cosméticos”. Em primeiro lugar estes fatores precisam ser verdadeiros, realistas e
praticáveis. Em segundo lugar só contrate pessoas que possuam o perfil compatível
a essas definições.
2- Envolva o maior número
possível de colaboradores na formulação da estratégia, criando o comprometimento.
Compartilhe a visão de futuro e desenvolva a liderança
participativa para que haja comprometimento de todos em relação aos propósitos
corporativos e para a criação de uma forte capacidade de resiliência e coragem ,
frente às turbulências e desafios, que com certeza virão . Desta forma será
criado um perfeito senso de capacidade para inovar e se reinventar, por
exemplo.
3- Pratique o Pensamento
Estratégico na Avaliação das Estratégias
Se
todos na empresa estão afinados principalmente com os Objetivos Estratégicos e
Crenças e Valores, teremos um grupo de pessoas sintonizadas na mesma frequência,
em busca de soluções inovadoras ,que poderão representar a “diferença que faz a
diferença”.
Convide
seus principais fornecedores, distribuidores e principais clientes a participar
destes exercícios e no compartilhamento de visões e abordagens . O resultado será surpreendente.
4- Permita que as pessoas
expressem livremente suas opiniões e percepções
Lembre-se
que a solução de um problema complexo jamais será encontrada no mesmo nível de
consciência que o criou, e aqui estamos tratando de complexidade “stritu censo”,
portanto nada é absurdo neste exercício. Se há conhecimento de causa, alto
poder de observação, curiosidade constante, é lícito que as pessoas se sintam à
vontade para expressar suas opiniões e visões sobre os fatos.
5- Obtenha o Compromisso
Coletivo com o Resultado
Estamos
tratando do futuro da empresa e do futuro de todos. È necessário, portanto
haver o senso de comprometimento coletivo com os resultados. Se positivos todos
participam das glórias e benefícios. Se negativos todos arcam com o ônus.
Ninguém acreditará em retóricas ou teorias de mudanças se não houver
comprometimento para valer.
6- Identifique e Incentive
as Lideranças
Se
a ideia é a migração para o Pensamento o Estratégico, será natural que neste
exercício despontem as lideranças dentro
dos grupos.
Ambientes
de alta turbulência exigem estratégias inovadoras e que implicarão muitas vezes
em mudanças expressivas. Só os verdadeiros líderes é que poderão conduzir a
empresa aos novos caminhos.
7- Elimine o excesso de Peso
e feche o Foco na execução da Estratégia
Há
uma regra básica em gestão indicando que para ganhar é preciso deixar para trás
tudo aquilo que não está relacionado com a Estratégia.
Na
medida em que as mudanças exigirem novas posturas estratégicas você terá que
rever processos, rever a estrutura organizacional e principalmente ter pessoas
realmente alinhadas às novas competências requeridas pela Estratégia. Tudo mais
é dispensável e deve ser eliminado.
8- Ponha imediatamente em
prática sua Estratégia
Não
se apresse em decidir se não estiver convencido de que sua empresa tenha
chegado a melhor Estratégia possível.
Estude
com cuidado todas as variáveis em jogo, tanto visíveis e principalmente as não
visíveis. Entretanto em um cenário de mudanças constantes é necessário colocar
as Estratégias em prática tão logo estejam claramente definidas. O “timing” em
Planejamento Estratégico é fundamental.
9- Crie medidores de desempenho
Tudo aquilo que não
conseguimos medir, não conseguiremos controlar. Portanto você vai precisar de
medidores muito precisos e eficazes, até para que haja certo “descontrole
administrável”, pois “ em um cenário caótico se você tiver controle total da
situação ” é sinal que você não estará andando suficientemente rápido” .
10 - Prepare-se
para mudar tudo no dia seguinte
Se o mercado é
dinâmico e mutável você precisará estar pronto para alterar tudo
novamente em função da mudanças de cenários, mudança de padrão de reação dos
concorrentes e principalmente em função de seus próprios erros. que com certeza acontecerão.
Luiz
Roberto Carnier – Mestre pela Pacific Southern University, Palestrante
Internacional, Empresário, Professor da FGV e Escritor na área de Gestão
Corporativa. Contatos : WWW.CARNIER.COM
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