terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Universidad de Alcalá convida:

A Universidad de Alcalá, com quem a Escola Paulista de Negócios mantém parcerias e onde realiza módulos de internacionalização de carreira para seus alunos, convida para evento sobre o pensamento econômico de Celso Furtado. 

O evento coordenado pelo Centro Internacional de Formación Financiera - CIFF acontecerá em fevereiro na cidade de Madri. 

Em breve divulgaremos mais informações. Vá se preparando!


segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

COP 20: Negociações acabam em texto com várias debilidades.




O governo brasileiro considera fraco o atual texto negociado entre os países na Conferência do Clima das Nações Unidas, a COP 20, para a obtenção de um novo acordo mundial contra as mudanças climáticas. As discussões devem entrar a madrugada de sábado (13). O horário previsto para o encerramento era 18h, 21h no horário de Brasília, desta sexta (12).

Segundo o embaixador José Antonio Marcondes, que lidera a equipe de diplomatas do Itamaraty em Lima, no Peru, o documento atual "tem debilidades que precisam ser resolvidas". Caso contrário, na opinião dele, o resultado que sairá da COP peruana colocará em xeque a criação de um novo tratado global para o clima.

O futuro "protocolo, instrumento legal ou resultado acordado com força legal" quer obrigar todos os países a realizarem ações contra o aumento da temperatura no planeta. Ele terá que ser assinado em 2015 para entrar em vigor a partir de 2020.
De acordo com Marcondes, o que se conseguiu até agora é fraco, sem ambição e não diferencia de forma correta a responsabilidade dos países para cortar as emissões de gases-estufa -- que em grande quantidade aquecem mais que o normal o planeta e podem provocar desastres naturais como enchentes, secas e degelo das calotas.

Cinco gargalos

Ele dividiu os problemas em cinco pontos. O primeiro é que falta ambição ao texto sobre como o aumento da temperatura global será freado em 2ºC até o final do século. O segundo ponto, de acordo com o embaixador, é que não há clareza de como cortar as emissões até 2020.
A ausência de definições sobre o que deve ser feito nas áreas de mitigação (corte de emissões), adaptação, transferência de tecnologia, finanças, capacitação de pessoas e transparência de ação e apoio a países vulneráveis é o terceiro ponto problemático do documento.
O quarto é que o texto “desaparece” com o princípio das “responsabilidades comuns, porém diferenciadas”, motivo de briga entre os blocos de países ricos e os em desenvolvimento. Na prática, ele obriga nações que mais emitiram historicamente a fazer mais pelo clima. No entanto, os países desenvolvidos não acham justo que governos emergentes como China, Brasil e Índia, grandes poluidores atualmente, não cumpram as mesmas regras.
O quinto ponto é que não pode haver retrocessos na Convenção do Clima, ou seja, extinguir as obrigações que existem atualmente, como o Protocolo de Kyoto, que obriga nações ricas a reduzir a poluição nacional por força de lei.

Legalmente vinculante?

Um outro entrave na negociação é sobre a necessidade dos países serem obrigados a cumprir o novo acordo. Em 2012, na África do Sul, todos concordaram que seria criado um instrumento legalmente vinculante (de cumprimento obrigatório). Porém, os Estados Unidos articulam para que o novo regime climático não receba esse título.
O motivo é que a maior potência econômica mundial, e um dos dois maiores emissores de poluentes, com a China, teme que o Congresso americano, de maioria Republicana (o governo de Barack Obama é do partido Democrata) barre sua participação no acordo.
O assunto deve ter uma conclusão apenas no ano que vem, quando ocorrerão quatro outras rodadas de negociação. A primeira será em fevereiro, em Genebra, e a última em Paris, na COP 21, quando os países firmarão o novo convênio.
A previsão é que das conversas multilaterais de Lima saiam a aprovação de uma metodologia para elaboração das Contribuições Intencionais Nacionais Determinadas (INDCs, na sigla em inglês), ações a serem cumpridas por cada país pós-2020, quando o novo tratado climático entrar em vigor, o texto-base com os elementos desse tratado e o que terá de ser feito entre 2015 e 2020 para conter a poluição no planeta.
Ao longo da semana, o presidente da conferência, o ministro do Meio Ambiente peruano Manuel Pulgar, brincou por diversas vezes que as 18h de sexta, todos os negociadores estariam se abraçando e brindando com pisco, bebida típica do país, os resultados da negociação. Não foi o que aconteceu.


Materia publicada originalmente em http://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2014/12



terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Tupã

Publicado na Folha de São Paulo por Fernanda Torres

Durante a filmagem de "Tarzan e o Menino da Selva", a intimidade com que Chita encarava os atores assombrou José Lewgoy. É que para ela, explicou o treinador, não há diferença entre um chimpanzé e o resto do casting. 
O episódio corrobora com a perspectiva ameríndia de Eduardo Viveiros de Castro. Nela, o sentido de humanidade não pertence ao homem, mas aos seres vivos. 
O Ocidente, segundo o antropólogo, segue a trindade de Cristo, Kant e Descartes, para quem o homem corria dois grandes perigos: negar a existência de Deus e acreditar que todo animal tem alma. 
A razão diferenciava os humanos dos animais. Mas para um índio, pelo contrário, o traço de união entre as espécies é justamente a humanidade, não a animalidade. 
A onça é gente para a onça, que vê o homem como porco. O porco é gente para o porco, que vê o homem como onça. A natureza muda conforme o ponto de vista e todos, sem distinção, são sujeitos da própria necessidade. 
Mas a onça, o homem e o porco não podem se ver como gente ao mesmo tempo. Alguém tem que servir de pasto. O índio, esclarece o pesquisador, tem enorme respeito pela alteridade e nenhum pela autoridade. 
Tidas como primitivas, coube às nações indígenas formular um raciocínio bem mais complexo do que a visão autocentrada que os civilizados têm de si mesmos. 
Viveiros defende que a antropologia, hoje, exerce um papel tão importante quanto o da física para o Renascimento. Dessa vez, em lugar da Terra, é o homem que deve ser tirado do centro do universo. 
Para um nativo, o maior inimigo dos vivos são os mortos. É contra aqueles que não têm corpo, e que, portanto, não são diferentes de nós, que devemos lutar. Entidades abdutoras, os mortos costumam atacar os que se veem a sós, na floresta, longe de seus companheiros. 
Se um espírito invejoso –na forma de mãe, pai, animal ou planta– te dirigir a palavra, advertem os sábios, não responda. Grite que é gente e o fantasma desaparecerá. Caso contrário, você reconhecerá nele a condição de sujeito, perderá a sua e estará condenado à captura e à morte. 
Viveiros, que não é dado a contatos com o além, associa essa sensação de desproteção diante do sobrenatural ao medo que sente quando é interpelado pela polícia. Todos são iguais perante o Estado, observa, não há parentesco que te dê garantias, em especial, se você é preto e pobre. 
O Estado é a sobrenatureza. 
A correlação ajuda a explicar a sua aversão às ambições governistas de direita e de esquerda. Os plano de desenvolvimento dos militares para a Amazônia, diz ele, não diferem do genocídio perpetuado pelo governo democrático de hoje. 
Há um desrespeito generalizado pelos que não se encaixam na cadeia produtiva; a engrenagem que resultou numa sociedade escravizada pelo trabalho, produtora de lixo, em vias de exaurir os recursos naturais do planeta. 
Ruralistas e trabalhistas, capitalistas e comunistas, do Executivo e do Legislativo, defendem o crescimento e a geração de empregos. Não há como parar as máquinas. O bonde do progresso só funciona andando. 
Em São Paulo, 2 milhões de pessoas se aboletam nas nascentes dos rios, outros tantos ganham a vida na indústria automobilística, bilhões de chineses comem soja do Mato Grosso e o pré-sal financiará a saúde e a educação. 
Com a derrota de Marina Silva, a ecologia sumiu da pauta nessas eleições, enquanto as queimadas batem recordes. 
Na mesma semana em que definimos o pleito, o biogeoquímico Antonio Nobre, do Inpe, divulgou o resultado dos estudos sobre a bomba d'água amazônica. O desmatamento no Norte e no Centro-Oeste estaria interrompendo o fluxo dos rios de vento, responsáveis pelas chuvas no Sudeste. 
É preciso barrar as motosserras e promover o replantio imediato, ou a vingança de Tupã transformará o sul maravilha em sertão. 
Pior que mortos, somos mortos-vivos movidos a diesel. Sem termos como voltar a ser índios e nem como continuar brancos, esperamos que a providência divina promova milagres na Cantareira. 
Enquanto escrevo, admiro pela janela a maior floresta urbana do mundo, resultado do decreto de Dom Pedro 2º, firmado em 1861, que ordenou o replantio do maciço da Tijuca, devastado pelas monoculturas de cana e café. 
Manda ressuscitar o monarca! 


Fernanda Torres