O debate para disputa ao governo do Estado do Rio de Janeiro passado na Band me fez lembrar a famosa frase de Holanda Cavalcanti, cunhada no Brasil Império, que dizia: “Nada mais parecido com um Saquarema do que um Luzia no Poder”. Tive tal lembrança por perceber que há muitos anos alterna-se o governante, mas a mesma estrutura permanece no Poder inalterada. Pelo perfil dos atuais candidatos, essa estrutura continuará imarcescível, ao arrepio do ideário republicano, que pressupõe alternância de poder.
Quando Garotinho foi governador do Rio sua vice-governadora foi Benedita da Silva, que hoje critica Garotinho aos quatro ventos, sendo Secretária de Ação Social no governo Pezão e integrante do PT, partido do candidato Lindberg e da Presidente Dilma, cujo vice-presidente é Michel Temer do PMDB, sim, do PMDB, partido do candidato Pezão. Crivella, por seu turno, também faz parte da argamassa do nosso sólido tijolo do poder, foi Ministro da Pesca no mandato de Dilma até poucos meses atrás, apoiou Sérgio Cabral no segundo turno das eleições de 2006 e, por pouco, não deixou de concorrer ao governo, para ser vice da chapa de Garotinho, cujo partido (PR) é aliado em vários estados do PT, PMDB e PRB.
No governo Dilma contamos, ainda, com Edison Lobão, do PMDB, no Ministério de Minas e Energias. Essa figura esdrúxula é maranhense, cria de José Sarney (ele nunca fica de fora), que de energia mal sabe acender a luz, como diz Palmério Dória. Maluf também não fica de fora dessa festa. Seu partido – o PP – recebeu de presente do governo Dilma o Ministério das Cidades e do governo de Sérgio Cabral a Secretaria de Transportes. Moral da história: independentemente de quem assuma o governo do Rio de Janeiro, estaremos com nosso destino traçado ao talante do mesmo bloco de Poder. Por mais que tenhamos uma figura nova com promessas de mudanças, as promiscuas alianças, as quais, pretensiosamente, acompanham o fluxo dos vencedores, desaguarão no império do mesmo bloco de poder. É como se colocássemos todos esses candidatos no liquidificador e extraíssemos daí uma vitamina. Essa vitamina é o que nos alimente há anos e continuará assim.
A democracia sucumbe mais uma vez diante do triunfo inevitável dos donos do Poder.
Gabriel Dolabela é professor na Escola Paulista de Negócios e da Universidade Candido Mendes - RJ |
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