Inflação: Ela novamente...
Em nossa carta de conjuntura de maio, alertávamos que a Presidente Dilma fazia “um discurso interno esquizóide (por inexequível) jurando que aumentará o rigor fiscal e domará a inflação sem que o país pare de crescer”... Recentemente o Ministro Guido Mantega assumiu que o PIB brasileiro em 2011 será menor que o previsto, ao mesmo tempo em que o Banco Central alterou seu discurso habitual e anunciou que a meta da inflação (que na verdade é um intervalo entre índices previstos) deve se estabelecer no seu limite superior e, inclusive, admite que seja ultrapassado.
A mudança de discurso e de foco das autoridades econômicas brasileiras está, é claro, fundada no alargamento da crise, notadamente, na Europa que não parece ter solução rápida, assim como na já sensível redução do ritmo de crescimento chinês. Entretanto, independente desses fatos, as novas atitudes do governo não se baseiam na técnica e na racionalidade econômica e sim na “racionalidade política” do Palácio do Planalto. Tanto é verdade, que o Brasil é um dos poucos países que tem adotado tal política frente a alta da inflação, sendo acompanhado apenas por Turquia e Israel, ambos com evidentes e relevantes questões políticas para administrar.
Nosso país por anos manteve certa conduta econômica na qual a taxa de juros deveria ser sempre elevada frente a pressões inflacionárias. No discurso, tal ação tinha como objetivo conter a inflação, sendo, contudo, que na prática visava compensar eventuais perdas dos investidores derivadas da alta generalizada dos preços (lembrem que a taxa real juros é dada pela nominal menos a inflação).
Até pouco depois de nossa Carta de Conjuntura de maio, o Planalto defendia o controle da inflação como ponto básico de sua gestão econômica (assim como se fez nos governos Lula e FHC). Contudo, com o agravamento da crise na Grécia, Itália, Portugal, Espanha etc e, principalmente, pelos sinais identificáveis de redução da atividade econômica interna, o foco é alterado já que nas palavras da Presidente “a inflação não é coisa tão importante” frente à conservação do crescimento.
Tal mudança de postura, por problemas muito diferentes de Turquia e Israel, deve ser entendida num contexto em que o governo Dilma se sustenta em dois pilares – ambos com forte caráter popular – a manutenção do consumo (principalmente das classes C e D) que é o que vem puxando o PIB nos últimos anos e a manutenção do nível de emprego.
Assim, na contramão de sua atuação tradicional, diante da pressão inflacionária, o BACEN não aumentou a Selic e, pelo contrário, dá sinais de que não vai subi-la. Dito de outra forma, o governo Dilma prefere sacrificar a meta da inflação e garantir um Natal com muitas vendas e desemprego baixo, aguardando uma melhor definição do desenho da crise em 2012.
É uma aposta. Resta saber se haverá bônus ou qual o ônus que, eventualmente, será pago por ela.
Professores do Grupo de Conjuntura da Escola Paulista de Negócios
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