Nunca ficou muito claro para mim o
motivo das pessoas preferirem a crença fácil, a aceitação pacífica e morna e o
conforto da idealização sobre a realidade construída, como se fosse possível
obter vantagens sem esforço.
Os avanços na economia brasileira erguidos após
a eleição do presidente Lula é um desses mitos da prosperidade sem
custos.
Preferimos acreditar que poderíamos aumentar o consumo, dobrar o crédito, subsidiar setores, gerar empregos, distribuir verbas públicas (bolsa disso, bolsa daquilo, bolsa da bolsa) e até ter empresários brasileiros na Top 10 da Forbes, sem nenhum ônus a ser pago no futuro.
Nos fizeram crer (e, Dona Dilma
hipocritamente ainda tenta), que todos os nosso problemas são reflexos de uma
instabilidade internacional, fruto de uma longínqua e instinguivel crise
financeira ocorrida em 2008. Deve ser mais simples negar a estagnação do
produto interno, o uso equivocado de receitas do Tesouro e que as pedaladas contábeis existiram
e quem as autorizou sabia o que fazia (pedaladas que fariam
qualquer estudante de contabilidade enrubescer) do que aceitar nosso
fracasso, não só como povo, por elegermos os parlamentares e governantes que estão ai, mas também, como indivíduos que pelo silencio, ouvidos moucos e cegueira temporária, autorizamos uma
trajetória de fragilização econômica, enquanto alguns enriqueciam (vários de
forma ilícita) e uma nova face da elite emergia.
Votei no PT e fui orgulhosamente
petista até pouco depois da eleição de Lula. Só que o partido que deu legenda
para Dilma não mantém nenhuma semelhança, nem mesmo uma vaga lembrança, daquele
que foi criado no bojo da esperança da redemocratização. O novo PT é um triste
plagio do que já foi um partido de base. Como governo sua atuação poderia ser
brilhante, mas a sucessão de erros e a aparente ignorância em compreende-los ou incontestável arrogância em assumi-los da atual presidente (ou presidenta como prefere a onipotente), provocou a perda de referências
para diversos setores da sociedade, jogando empresas na inoperância e tornando
centenas de milhares de brasileiros dependentes de algumas políticas
compensatórias que em algum momento vão ter que ser reduzidas ou ajustadas.
Vale lembrar que segundo o poeta, alguns de nós somos “igual em tudo
na vida” e até teríamos o direito da “mesma morte severina”. Mas é importante termos claro que os verso foram escritos
para nos fazer pensar no ser distante, naquele que não está ao alcance do
olhar. E foi que fizemos, apoiamos, como nação, as políticas sociais compensatórias propostas
pelos governos do PT, e o fizemos pela busca da identidade coletiva, da auto-estima e da crença de
que um país próspero só é alcançado quando alguma justiça social é atingida.
Por uma vez na história, nós, a classe
média culta e formadora de opinião, decidimos não aceitar mais que milhares de
brasileiros vagassem sem ter claro seu destino. Só que enquanto, por um lado, a falha
ética do governo corroía os erário público, sugando recursos pela corrupção ou,
por outro, simplesmente ao tomar decisões erradas, populistas e inconsequentes
o governo afundou com o setor elétrico, destruiu a reputação internacional da Petrobras, colocou em risco dezenas de empreses etc.
Dizem alguns, que agora de pouco vale
reclamar, pois nos anos do PT o governo só fez nos deu os meios que desejávamos para
iludirmos a nós mesmos. Apenas nos possibilitou continuar acreditando que somos
especiais e que por isso temos o direito de entrarmos para o clube dos povos desenvolvidos.
Particularmente discordo. Não nego
minha parcela de culpa por não ter visto ou não ter querido ver os caminhos que
estavam sendo trilhados, mas acho que os fatos não nos permitem mais ficar
calados, principalmente para não destruirmos os sonhos das geração que nos sucede.
Os sonhos que parte de nós tínhamos no
passado, quando da redemocratização, creio já se esvaíram, mas não aqueles que os mais jovens tem sobre o futuro. Eles podem ser construídos, basta rompermos com a crença no fácil e lembrarmos que não existe “Salvadores da Pátria”, pois a
Pátria só se constrói pelo trabalho coletivo, pelos pactos de inclusão e solidariedade
e pelos os sonhos daqueles que não se calam.
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Ronaldo Rangel é professor da EPN |